Quarentena não é férias

Dr. Guilherme Vieira Lima faz uma breve reflexão sobre como a pandemia de Covid-19 expões nossas fraquezas como surfistas.

Em breve, o tsunami irá passar e juntos voltaremos a surfar tranquilamente. Foto: Antônio Zanella.

Em breve, o tsunami irá passar e juntos voltaremos a surfar tranquilamente. Foto: Antônio Zanella.

Sol, céu azul, calor, água quente, swell batendo na costa e a praia vazia. Cenário perfeito, para um dia de onda e sorriso no rosto, dignos de uma cena do “Endless Summer”. Porém, estamos mais próximos de uma ficção científica do tipo “Contagio”. Triste realidade! Então, eu convido a todos leitores dessa coluna a uma breve reflexão sobre como essa pandemia expos nossas fraquezas como surfistas.

Realmente a situação merece atenção de todos. Diariamente novas recomendações são anunciadas conforme a doença se espalha pelo país e junto com elas, novas dúvidas e confusões. E para nós surfistas, praticantes de uma modalidade ao “ar livre”, amantes da natureza, da exploração de novos lugares e picos exóticos, uma recomendação de isolamento domiciliar cai como um tiro no peito.
A pergunta mais frequente que escuto é: a água do mar transmite esse COVID19? Fui atrás da resposta, mas antes, vamos nos ater a outros fatos mais importantes sobre surfistas e a epidemia.

Esse dia de surfe perfeito descrito anteriormente, também foi o sonho de mais um milhão de surfistas. Imaginem todos da sua rua pensando em dar uma escapadinha no melhor momento do mar. Certamente alguns tomaram e tomarão os cuidados devidos, mas, muitos outros não.
Somado a isso, um fato ocorrido foi que no momento do anuncio das recomendações de reclusão domiciliar com a possibilidade de “home work”, muitas pessoas optaram por ir para a região litorânea, principalmente dos grandes centros. Neste movimento, a chance de se ter uma maior circulação do vírus também aumentou.

O grande colapso conhecido sobre o corona vírus é o quanto ele sobrecarrega o sistema de saúde local. Essa doença de fácil transmissão, que na maioria jovem e saudável se manifestará como uma simples gripe; atingirá uma grande camada da população frágil também. Essa demandará de infraestrutura hospitalar e cuidados médicos intensivos dos quais muitos locais, principalmente praianos, não possuem.
Outro aspecto importante já muito falado em muitos textos dessa coluna, é a imprevisibilidade do surfe. Vale lembrar que durante a sua sessão, acidentes traumáticos que necessitem de atendimento médico podem acontecer. E dessa forma, inflarão ainda mais o atendimento de urgência do pronto socorro local.

Em relação a transmissão do covid pela água do mar, é difícil afirmar qualquer coisa sobre este assunto. Por mais que realizem trabalhos experimentais do comportamento do vírus na água salgada, é quase impossível reproduzir num estudo, as condições dinâmicas do mar quando se surfa. Além da hiperdiluição marinha que dificulta ainda mais o trabalho. Então, esse conhecimento perante a todos fatos já mencionados, deixa a resposta para a pergunta quase irrelevante para sua preocupação em surfar nestes próximos dias.

A saúde mental do isolamento domiciliar deve ser fator de preocupação também. Nossa recomendação é que escolha momentos de pouco movimento na rua, e dê uma volta, evite interação muito próxima com as pessoas e atente-se muito a higiene das mãos a todo o momento. Para aqueles que estão realizado um racionamento do álcool gel, os infectologistas afirmam que lavar as mãos com água e sabonete de forma atenciosa também é muito eficaz.

A tecnologia neste momento também nos ajuda. Diversos “streamings” de filmes estão sendo liberados e aplicativos gratuitos como o @SID (surf injury data), que possui uma área de exercícios (que pode ser realizados “indoor”) e uma área de conteúdo acadêmico, ajudam na “sobrevivência” a essa condição momentânea.

Enquanto a medicina e a ciência buscam exames de resultado imediato e medicamentos de tratamento promissor, é sabido que o isolamento é uma forma eficaz de conter a pandemia. Façamos então a nossa parte e seguimos as recomendações*:
*de acordo com as recomendações do ministério da saúde do momento que foi escrita esse texto.

– Atenção a população de risco:
– > 65 anos
– Doença Pulmonar Obstrutiva (DPOC) e outras doenças pulmonares prévias
– Doenças Cerebrovasculares
– Cardiopatias e Hipertensos Graves
– Insuficiência Renal
– Imunossuprimidos

– Higiene exaustiva das mãos, principalmente ao entrar e sair de casa. Se possível troca de roupa ao chegar em casa.
– Isolamento e cuidados com pacientes sintomáticos.
– Respeitar a Quarentena estipulada conforme o caso.
– Procurar o pronto socorro se sinais importantes como febre, tosse, dor de garganta e principalmente falta de ar.
– Evite aglomeração e respeite as ordens governamentais estipuladas.

Cuidado com soluções milagrosas de soro de imunidade ou medicações de cura imediata. O caos é um prato cheio para aproveitadores. Tenha a conscientização coletiva, e fiquem calmos. O Tsunami irá passar e JUNTOS voltaremos a surfar tranquilamente.

https://www.waves.com.br/colunas/surfe-e-medicina/covid-19-quarentena-nao-e-ferias/

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